Artigo
de Opinião de Alfredo Martins, Internista e Coordenador do NEDResp
O
cancro do pulmão é, atualmente, a primeira causa de morte por
cancro nos homens em Portugal, e a terceira no sexo feminino, atrás
do cancro do cólon e do cancro da mama. Por ano são efetuados novos
diagnósticos de cancro do pulmão em cerca de 5.730 homens e 1.430
mulheres, e morrem por esta doença aproximadamente 5.100 homens e
1.080 mulheres.
Apesar
dos progressos conseguidos no seu tratamento, os ganhos verificados
na sobrevida da maioria dos doentes, cinco anos após o diagnóstico,
são escassos. Nos Estados Unidos a taxa de sobrevida global aos
cinco anos passou de 13 por cento em 1975 para cerca de 18 por cento
em 2018. O prognóstico depende do estádio de evolução da doença
na data em que é iniciado o tratamento e a maioria dos diagnósticos
são obtidos em fases avançadas da doença. Nestes casos a taxa de
sobrevida aos cinco anos varia entre os zero e os 36 por cento.
Contudo, os doentes diagnosticados durante o primeiro estádio
clínico da doença têm uma probabilidade de mais de 90 por cento de
estarem vivos passados esses cinco anos.
Podemos
concluir, pelos números acima referidos, que se trata duma doença
com um peso social e económico muito significativo, com sérias
repercussões na vida das pessoas e das famílias afetadas e na
sociedade em geral, uma vez que as suas consequências, o tratamento
e todo o apoio de que necessitam os doentes com cancro do pulmão se
repercutem, de diferentes formas e intensidades, a todos estes
níveis.
Será
que podemos alterar este cenário?
O
conhecimento atual sobre as causas do cancro do pulmão, as
capacidades disponíveis para o seu tratamento conforme o estádio da
doença ao diagnóstico e as possibilidades existentes de realizarmos
diagnósticos em estádios mais precoces permitem-nos afirmar que
podemos alterar muito o cenário atual e que não estamos, de facto,
a orientar os esforços no combate à doença na direção certa. É
necessário investir muito mais em duas áreas fundamentais: na
prevenção e no diagnóstico precoce do cancro do pulmão. Podemos
parar o cancro do pulmão antes de ele aparecer e, quando isso não
for possível, temos de o diagnosticar antes de adquirir dimensões
que impeçam a sua cura.
Mais
de 80 por cento dos doentes com cancro do pulmão são fumadores ou
ex-fumadores. O hábito de fumar e a exposição ao fumo ambiental é
o principal fator de risco associado ao desenvolvimento de cancro no
pulmão e este risco pode ser significativamente diminuído pela
mudança de hábitos. A doença pode ser evitada numa enorme parcela
dos casos com a redução do consumo ou da exposição ao tabaco. Em
Portugal cerca de dois milhões de pessoas são fumadoras (perto de
1.33 milhões são homens e 680 mil são mulheres).
Existem
ainda outros fatores de risco conhecidos que devem ser objeto de
medidas de controlo específico: poluição atmosférica (fumos de
escape diesel); exposição profissional (asbestos, pó de madeiras,
vapores de soldagem, arsénico e metais industriais como o Berílio e
o Crómio) e a poluição indoor
(rádon e fumo do carvão).
Não
sendo possível eliminar todo o risco, vai continuar a existir cancro
do pulmão, e por isso temos que chegar ao diagnóstico da doença
antes que esta se manifeste através dos sintomas, porque a
identificação da doença em fase precoce aumenta muito a
probabilidade de cura.
A
tomografia computorizada torácica de baixa dose de radiação é o
único teste de rastreio de cancro do pulmão que permite diminuir a
probabilidade de morte por cancro do pulmão numa população com
alto risco de desenvolver a doença. Este deverá ser realizado em
centros capazes de identificar doentes com alto risco e com
capacidade para diagnosticar e tratar o cancro do pulmão. Portugal
tem condições para montar um programa de rastreio de cancro do
pulmão com cobertura nacional e deve fazê-lo.
Se conseguirmos ser eficazes
na prevenção e montar esse mesmo programa de rastreio com
capacidade para rastrear todas as pessoas com alto risco de cancro do
pulmão, poderemos reduzir a mortalidade por esta doença em cerca de
50 por cento em 15 anos. Isto significa que em 15 anos menos cerca de
3.000 doentes vão morrer por ano por cancro do pulmão.
Sobre
a SPMI
A
Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) é uma associação
científica, fundada em 1951. Tem como finalidade promover o
desenvolvimento da Medicina Interna ao serviço da saúde da
população portuguesa. Promove ainda a investigação e o estudo de
problemas científicos, bem como a organização de atividades
educacionais, no âmbito da formação contínua, dirigidas aos
médicos e à população em geral, no campo da Medicina Interna.
Para mais informações consulte https://www.spmi.pt/
Sobre
o NEDResp
O
Núcleo de Estudo de Doenças Respiratórias (NEDResp) da Sociedade
Portuguesa da Medicina Interna (SPMI) centra a sua atuação na
investigação, formação e consciencialização de profissionais de
saúde e da população no âmbito das doenças respiratórias. Este
grupo é constituído por Internistas associados da SPMI.
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