Foto: ©ACN Portugal |
Pouco antes da viagem do Papa Francisco a Abu Dhabi, a Igreja local reconheceu o apoio que recebeu dos Muçulmanos. Em entrevista à Fundação AIS, o Bispo Paul Hinder, Vigário Apostólico para o sul da Arábia, falou de uma visita “histórica” e declarou: “Será a primeira vez que a Eucaristia será celebrada numa propriedade pública que o Governo colocou à nossa disposição para este fim.”
D. Hinder, um frade capuchinho suíço, espera cerca de 130 mil fiéis, que se reunirão no dia 5 de Fevereiro para participar na Eucaristia presidida pelo Papa Francisco na capital dos Emirados Árabes Unidos. O Santo Padre visitará o país islâmico de 3 a 5 de Fevereiro. Esta será a primeira vez que um Papa visita a Península Arábica.
“Vários muçulmanos contactaram-me para perguntar de que maneira podiam ajudar a preparar a visita. Muitos deles manifestaram interesse em assistir à Missa. Também o Governo está a fazer tudo o que está ao seu alcance para garantir que o maior número possível dos nossos fiéis possam ver o Papa ”, acrescenta D. Hinder.
Os Emirados Árabes Unidos são considerados relativamente abertos e tolerantes em relação aos não-muçulmanos. Segundo os dados do Relatório 2018 sobre a Liberdade Religiosa no Mundo da Fundação AIS, o príncipe herdeiro de Abu Dhabi mudou, em Junho de 2017, o nome da Mesquita Sheikh Zayed para a Mesquita Mãe de Jesus. Esta mudança, de acordo com o próprio príncipe herdeiro, foi tomada para fortalecer o laços humanos entre os seguidores de diferentes religiões.
“Vivo em Abu Dhabi há 15 anos e nunca experimentei qualquer animosidade”, explica o Bispo Hinder. “Sabemos obviamente que em todos os países islâmicos, os não-muçulmanos - não apenas os Cristãos - têm que se submeter às regras sociais do Islão. Por outro lado, vejo um profundo respeito pelos Cristãos também entre a população local. Isto é ainda mais evidente agora, neste período que antecede a visita papal.”
Segundo o Bispo Hinder, enquanto na Arábia Saudita apenas são toleradas celebrações eucarísticas privadas e em pequenos grupos, nos Emirados Árabes Unidos existem igrejas onde milhares de fiéis se reúnem regularmente para celebrar a Missa.
Nos Emirados Árabes Unidos vive cerca de um milhão de católicos de diferentes ritos e praticamente todos são trabalhadores estrangeiros que permanecem no país por um período de tempo limitado. Muitos vêm da Índia, das Filipinas e do Sri Lanka. São atendidos em nove paróquias. Por essa razão, o Bispo Hinder espera que possam ser construídas mais igrejas. “Seriam desejáveis mais igrejas, pois o número das nossas paróquias ainda não é proporcional ao número de fiéis.”
No Relatório 2018 sobre a Liberdade Religiosa no Mundo pode ler-se que o Islamismo é a religião oficial dos Emirados. A sharia islâmica é a principal fonte de legislação nos Emirados. O Relatório acrescenta que os Muçulmanos podem praticar proselitismo mas existem penalizações para os que sejam apanhados a praticar proselitismo entre os Muçulmanos. Se forem apanhados, os estrangeiros podem ver a sua autorização de residência revogada e enfrentar a deportação.
Segundo o relatório, as igrejas cristãs não podem ser adornadas com campanários ou ter cruzes visíveis. Os Muçulmanos não podem converter-se ao Cristianismo.
“Não conheço nenhum país muçulmano que permita total liberdade religiosa. Mesmo naqueles em que converter um muçulmano a outra religião não é punível por lei, no mínimo o círculo social da pessoa, em particular a sua família, reagirá com ostracismo ou mesmo violência física. A liberdade de religião é maior ou menor dependendo do país ”, acrescenta o Bispo Hinder.
Há espectativas de que esta visita papal promova algumas mudanças. “Espero que a visita do Papa seja capaz de mudar o clima geral para melhor. No entanto, seria um erro esperar muitos milagres deste tipo de visita ”, disse o Vigário Apostólico. “O decisivo é que nós, Cristãos, somos testemunhas confiáveis da mensagem de Cristo. E isso também significa aceitar com humildade que nunca tocaremos o primeiro violino nesta sociedade. Às vezes, é suficiente ser capaz de tocar bem a flauta para entusiasmar os outros! ”
O Padre Andrzej Halemba, responsável da Fundação AIS por esta região, concorda com o Bispo Hinder. “A visita do Santo Padre é um grande incentivo para os cristãos que trabalham no Golfo. Experimentarão deste modo a solidariedade da Igreja Católica Universal ”. O Pe. Halemba enfatizou a importância do encontro inter-religioso entre o Papa e os representantes do Islão. “Ao aproximar-se dos Muçulmanos, o Papa não faz mais do que cumprir o mandamento do Evangelho, pois é um diálogo de Deus com a humanidade, que continua como diálogo de pessoa a pessoa”.
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