1. O Papa Francisco proclamou o mês de Outubro de 2019 como o Mês Missionário Extraordinário, tendo por motivo a celebração dos 100 anos da proclamação da Carta Apostólica Maximum illud, do Papa Bento XV, escrita no final da Primeira Guerra Mundial e que alertava a Igreja para a necessidade de “requalificar evangelicamente a missão no mundo”, superando as tendências colonialistas, nacionalistas e expansionistas que levaram a humanidade aos trágicos acontecimentos da Primeira Guerra Mundial. Pretendia, assim, reforçar o impulso que deveria ser dado à missão ad gentes.
O tema da missão no contexto da Nova Evangelização é muito caro ao Papa Francisco, que lhe dedica abundantes reflexões, por exemplo, na sua primeira Exortação Apostólica, A Alegria do Evangelho. Para o Papa Francisco, este Mês Missionário Extraordinário tem como objetivo “despertar em medida maior a consciência missionária da vida e da pastoral”. O convite que se fez foi e é que cada cristão leve a peito este novo impulso missionário, transformando as comunidades em realidades missionárias e evangelizadoras. É uma nova forma de olhar para as comunidades, não apenas como lugar de encontro dos que aí vivem e celebram a mesma fé, mas, sobretudo, como lugar de saída e de anúncio. Esta saída far-se-á, por sugestão do Bispo de Roma, pela intensificação da oração, pela prática das boas obras e pela reflexão bíblica e teológica sobre a missão, de modo que a Igreja nunca deixe que lhe roubem o entusiasmo e a esperança, pois são estas as caraterísticas que melhor definem o seu lugar no mundo. Foi, neste contexto que, no passado dia 6 de setembro, aquando da sua Visita Pastoral a Moçambique, terra que me viu nascer, disse: “por favor, guardai a esperança, não deixeis que vo-la roubem. E não há melhor maneira de guardar a esperança do que permanecer unidos”.
2. O Papa Francisco ao convocar a Igreja para este o Mês Missionário Extraordinário, fê-lo certamente com o pensamento nesta esperança, que propôs à Igreja Universal “que o sopro do Espírito Santo suscite uma nova primavera missionária na Igreja”.
O mundo e os tempos em que vivemos mudaram tanto que até a própria perceção do que é a Missão tem de ser diferente, já que não estamos a falar apenas da evangelização dos povos que não conhecem a Cristo, promovida essencialmente pela “cristandade ocidental”, mas sim da evangelização da própria cultura ocidental, tão carecida do seu encontro com Jesus Cristo.
Primavera exprime força de vida, de ressurreição, aquilo que se segue ao frio do Inverno. Ao pedirmos que o Espirito Santo suscite uma nova Primavera missionária, estamos a pedir que sejamos capazes de reinventar o nosso ser cristão no mundo e na sociedade, como uma semente que brota e cresce a partir de dentro, de um coração centrado em Cristo e não de um contexto exterior que, de muitas formas, já continha em si a fé e a transmitia naturalmente de geração em geração. Agora, é um desafio pessoal racional, mais apaixonado e mais vivo. Uma passagem consciente do Coração de Cristo para o coração do mundo, das pessoas e das suas necessidades. A passagem de uma fé assente somente na herança da tradição, para uma fé assumida na convicção.
É neste contexto, caros diocesanos, que vos dirijo esta Nota Pastoral. Há um ano atrás, compromete-nos, nas peugadas do Papa Francisco, a vivermos como um autêntico ano missionário, sob o lema “discípulos missionários”, assumindo que, ao longo do ano pastoral, viveríamos momentos onde a atitude missionária pessoal e comunitária fosse mais forte, o que, graças a Deus, aconteceu em vários lugares da nossa vasta Arquidiocese.
Estando nós muito próximos do mês de outubro, sendo ele o encerramento deste Ano Missionário, venho convidar cada um de vós a vivermos intensamente este mês missionário com gestos e atitudes que reflitam que somos e queremos ser mais e mais uma “Igreja em saída”, vizinha de todos e com todos comprometida.
3. Como nos disse, o Papa Emérito, Bento XVI, “A Igreja negligencia algo que lhe é mandado se não louva Maria. Quando o louvor de Maria, nela emudece, a Igreja afasta-se da palavra bíblica. Quando isto acontece também não louva a Deus de forma suficiente… Maria foi uma dessas pessoas que se inserem de forma muito especial no nome de Deus, tanto que não O louvamos suficientemente quando O pomos de parte”. Assim, neste mês de outubro, Maria terá que ser sempre, uma figura visivelmente presente. Ela ensina-nos a dizer sim, mesmo quando os nossos passos são vacilantes ou incertos. Ela dá-nos Jesus. Gera-O no seu sim e no seu ventre. Ela mostra-nos Jesus. Ela guia-nos para Jesus. Ela manda-nos obedecer a Jesus: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.
Maria é paradigma e modelo da Igreja em saída para fomentar a comunhão: sai da sua vida calma para ser Mãe de Deus; apressa-se a ir em auxílio de Isabel, levando a alegria da salvação; nas Bodas de Caná, sai da descrição de convidada para interceder pelos noivos; na Cruz, passa da sua casa para a casa de cada um de nós; depois da morte de Jesus, mantém a comunhão da comunidade, em oração e em espera.
Um próspero outubro Missionário 2019!
+ Francisco José, Arcebispo de Évora
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