ARCEBISPO DE ÉVORA
MENSAGEM PARA A QUARESMA
Como ser discípulo Missionário da Esperança em tempo de Pandemia?
Estimados Sacerdotes, caros Diáconos, Dilectos Consagrados, Amados Irmãos e Irmãs em Nosso Senhor Jesus Cristo.
Saúdo-vos com fraternal apreço, na esperança de que vos sintais iluminados e alimentados pela Palavra do Senhor e fortalecidos pelo Espírito Santo que no íntimo do vosso coração vos orienta e ensina todas as coisas necessárias para a vossa santificação pela fidelidade batismal, e para vossa liberdade interior de Filhos de Deus; e por isso vencedores do Pecado e testemunhas do Amor de Deus expresso na Sua Misericórdia, e por nós vivido no mandamento Novo do Amor Cristão.
1. Certamente viveremos esta Quaresma de uma forma muito diferente, devido ao confinamento exigido pela dolorosa e inesperada evolução pandémica no mundo e muito concretamente no nosso País, onde experimentamos momentos de assinalável aflição e continuamos a viver preocupantes apreensões face às necessárias alterações de vida, dita normal, e às múltiplas consequências destes confinamentos, na vida económica e social, e com consequências diversas nas comunidades, sem esquecer as sequelas psicossociais e as consequências sentidas pelas novas gerações face às diversas vicissitudes que atravessa a Escola e todo o ensino, bem como as marcas sentidas na Saúde das populações, em diversos casos em que deixaram de ser acompanhadas ou sequer atendidas.
Seja-me permitido a todos lembrar, que parece ser decisivamente importante para o sucesso do desconfinamento, o simultâneo êxito da campanha nacional de vacinação que deve merecer de todos nós um compromisso de cidadania consciente, responsável e solidário com os mais débeis e em situação urgente, bem como os seus cuidadores. Tudo indica que com o êxito da vacinação beneficiaremos do tão desejável desconfinamento progressivo, atento e prudente da sociedade.
Importa recordar que o nosso compromisso cristão tem consequências no exercício da nossa cidadania e do testemunho autêntico de caridade. A este propósito lembro a Palavra do Papa Francisco, na sua mensagem para a Quaresma de 2021, intitulada “Vamos subir a Jerusalém… (Mt 20,18). Quaresma, tempo de renovar a fé, a esperança e a caridade”: «A caridade alegra-se ao ver o outro crescer; e de igual modo sofre quando o encontra na angústia: sozinho, doente, sem abrigo, desprezado, necessitado… A caridade é o impulso do coração que nos faz sair de nós mesmos, gerando o vínculo da partilha e da comunhão. (…) A caridade é dom que dá sentido à nossa vida e graças ao qual consideramos quem se encontra na privação como membro da nossa própria família, um amigo, um irmão. O pouco, se partilhado com amor, nunca acaba, mas transforma-se em reserva de vida e felicidade. Aconteceu assim com a farinha e o azeite da viúva de Sarepta, que oferece ao profeta Elias o bocado de pão que tinha (cf. 1 Rs 17, 7-16), e com os pães que Jesus abençoa, parte e dá aos discípulos para que os distribuam à multidão (cf. Mc 6, 30-44). O mesmo sucede com a nossa partilha, seja ela pequena ou grande, oferecida com alegria e simplicidade».
2. A Quaresma não pode ser um resto arqueológico de práticas ascéticas de outras épocas, mas “Tempo Favorável”, Kairós, na qual podemos fazer a experiência, pela participação, do Mistério Pascal de Cristo, tornando-se pela Fé, nosso contemporâneo. Assim nos lembra o Apóstolo das Gentes: «Ora se somos filhos de Deus, somos também herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, pressupondo que com Ele sofremos para também com Ele sermos glorificados». (Rom 2, 17)
A Quaresma é o “Tempo Favorável”, no qual, Cristo purifica a Igreja, Sua esposa: “Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a igreja e se entregou por ela, para a santificar, purificando-a, no banho da água, pela palavra. Ele quis apresentá-la esplêndida, como Igreja sem mancha, nem ruga, nem coisa alguma semelhante, mas santa e imaculada» (Ef. 5, 25-27). Deste modo, a Quaresma e o seu carácter sacramental, é-nos proposta não tanto com a acentuação nas práticas ascéticas, mas na valorização da acção purificadora e santificadora do Senhor. As acções penitenciais são sinal da nossa participação no mistério de Cristo que por nós se fez penitente e jejuou no deserto. É o Senhor que dá eficácia aos gestos penitenciais dos seus fiéis; por Ele, tais penitências adquirem o valor de acções litúrgicas, ou seja, acções de Cristo e da Sua Igreja.
Pela História da Igreja, sabemos que a Quaresma surge unida à vivência batismal, sobre a qual se fundamenta o seu carácter penitencial de conversão. A Igreja é uma comunidade pascal porque é batismal. Isto percebe-se, não só porque se entra na Igreja pelo batismo, mas também porque a Igreja é chamada a uma contínua vida de conversão, exprimindo assim a sua fidelidade ao próprio Sacramento que a gera. É daqui que nos encontramos com o carácter eclesial da Quaresma. Eis, pois, o tempo da grande convocatória de todo o Povo de Deus para que se deixe purificar e salvar por aquele que é o seu Senhor e Salvador.
Todos recordamos com a reforma litúrgica do Vaticano II que a Quaresma é uma caminhada eclesial de Quarenta Dias, a iniciar em Quarta-feira de Cinzas e a encerrar-se no Domingo de Ramos da Paixão do Senhor; assim se conclui a Quaresma e inicia a Semana Santa. A Quaresma é um Tempo Forte que nos prepara para a celebração da Festa Maior do Cristianismo, a Páscoa, e que esta preparação nos convida à penitência, através da contrição dos pecados cometidos, com decisão de conversão e emenda de vida, testemunhando a verdade desta metanoia com obras de autêntica caridade, através de gestos de partilha fraterna e solidária com os irmãos mais necessitados de obras de misericórdia corporais e espirituais. Assim a penitência não é assumida só de modo intimista e individual, mas sobretudo de modo testemunhal e eclesial. Deste modo, a Penitência Quaresmal manifesta o nosso arrependimento pelo pecado, enquanto ofensa a Deus, e com consequências sociais que tentamos reparar pelos nossos actos de caridade e com a participação da Igreja através da sua contínua oração pelos pecadores.
3. Os meios sugeridos pela Igreja para a prática Quaresmal são a escuta mais frequente da Palavra de Deus, a oração mais intensa e prolongada, a prática do jejum e das obras de caridade (Vat. II S.C. 109-110). Para apoiar os Cristãos nesta vivência e tendo em conta o contexto atípico de Pandemia, proponho cinco propostas que poderão proporcionar algum conforto e ajuda espiritual:
- Catequeses Quaresmais, que abordarão o tema do nosso Ano Pastoral “Discípulos Missionários da Esperança pelo Acolhimento e pela Procura”, que serão seis catequeses por mim apresentadas, desde Quarta-feira de Cinzas até à Quarta-feira da Semana Santa, na qual meditaremos a perícope «Vinde a Mim Vós que andais sobrecarregados e eu vos aliviarei» (Mt. 11, 28). Estas catequeses serão transmitidas às 19,15 horas nos canais digitais da Arquidiocese (Página, Youtube e Facebook) e também no canal televisivo Canção Nova[1].
- Domingo em família: com a finalidade de acompanhar as famílias, neste contexto de confinamento, os Departamentos Diocesanos da Pastoral Litúrgica e da Educação da Fé dos Adultos e do Apostolado dos Leigos prepararam, para cada Domingo um subsídio que leva a cada família que o deseje, o apoio espiritual e a solicitude pastoral, a transmitir todos os Domingos na página digital e no Facebook da Arquidiocese.
- Renúncia quaresmal: seguindo um apelo da Caritas Portuguesa, dirigida ao Sr. Presidente da Conferência Episcopal, «este será o segundo ano consecutivo em que a rede nacional Caritas se verá privada de realizar o peditório público na rua. Se os recursos diminuíram por via dos constrangimentos que a pandemia nos colocou, esta mesma pandemia trouxe um número acrescido de solicitações a que, em conjunto, temos procurado dar resposta». Assim, apelo a todos os diocesanos que juntos ofereçamos a nossa Renúncia Quaresmal a favor da nossa Caritas Diocesana, a quem confio, como nos anos anteriores, a concretização desta recolha, indicando com criatividade e precisão os modos como todos poderemos participar neste gesto solidário tão urgente, e a que o Papa Francisco também alude na sua mensagem: “Viver uma Quaresma de caridade significa cuidar de quem se encontra em condições de sofrimento, abandono ou angústia por causa da pandemia de Covid-19. Neste contexto de grande incerteza quanto ao futuro, lembrando-nos da palavra que Deus dera ao seu Servo – «não temas, porque Eu te resgatei» (Is 43, 1).
- Quaresma da Morte à Ressurreição: conferência proferida pelo Padre Carlos Carneiro (SJ), dia 27 de fevereiro pelas 21,30 horas, uma iniciativa do Departamento Diocesano da Pastoral Juvenil, cujo link será indicado nos canais digitais da Arquidiocese.
- Início do Ano Dedicado à Família: celebração na Igreja de S. Francisco no dia 19 de março, pelas 21, 30 horas, iniciativa do Departamento Diocesano da Pastoral Familiar, cujo link será indicado nos canais digitais da Arquidiocese.
Assumamos estas propostas, levando-as à nossa oração pessoal e colocando-as nas Preces Litúrgicas ou Orações Universais, inclusive na oração em família e nas celebrações transmitidas pelos diversos meios digitais ou de comunicação social.
Na comunhão da oração e da caridade a todos desejo Santa Quaresma!
Évora, 17 de fevereiro e Quarta-feira de Cinzas do ano 2021.
+ Francisco José Senra Coelho
Arcebispo de Évora
[1] A Catequese de Quarta-feira de Cinzas dia 17 de fevereiro, por ser só de carácter introdutório, será apenas transmitida através dos canais digitais da Arquidiocese
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